Gilberto Vieira, Presidente das Casas Açorianas "É Urgente Alterar Legislação Sobre Turismo"



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Gilberto Vieira, Presidente das Casas Açorianas 

"É urgente uma reflexão cuidada para alterar a legislação sobre o turismo nos Açores"

Gilberto Vieira, proprietário da Quinta do Martelo, na ilha Terceira, é um dos mais experientes empresários de turismo no mercado e preside às Casas Açorianas, Associação de Empresários do Turismo Rural. Nesta entrevista, traça o balanço da época alta e queixa-se do tratamento diferente para o Turismo Rural cuja a legislação deveria ser alterada. 


Os dados do turismo desta época alta, até agora conhecidos, indicam que há uma queda na hotelaria tradicional uma subida no espaço rural. Como interpreta estes dados?

Esses dados indicam, de facto uma ligeira queda na hotelaria convencional e algum crescimento no segmento no Turismo Rural.  
Caso dos hotéis e similares, essa pequena descida pode ser pontual até natural porque vimos nos últimos anos a registar, ano após ano, crescimentos muito significativos e sabe-se bem que o aumento da procura de um destino não infinito. 
No caso do Turismo Rural, que também vem acompanhando essa evolução positiva no fluxo turístico para a região, aplica-se o mesmo principio, mas nota-se que há de facto cada vez mais apetência por essa opção.
Isso é evidente no aumento exponencial de visitas ao site das Casas Açorianas, nem todas se traduzindo em reservas, naturalmente, mas a reflecti-se num aumento proporcional de clientes. 


Acha que se está um novo perfil do turista que nós procura? Ou seja, mais inclinado para o Turismo Rural e Alojamento Local do que os grandes hotéis. 

Não a duvida de que as novas tipologias como alojamento local e hostel, que proliferaram nos últimos anos no nosso mercado, têm a sua quota de clientes, e esse numero é considerável, com natural impacto na hotelaria convencional e, também, no Turismo Rural. 
De salientar que muitas das unidades de Alojamento Local situa-se em espaço rural, localização que é muita atractiva só por si.
Ainda assim, o Turismo Rural aquentou o impacto, está a consolidar-se e com indicadores de crescimento. 


Devia-se criar mais incentivos ao investimento rural e menos nos grandes hotéis da hotelaria tradicional?

A cada momento, os responsáveis pela definição da política de turismo de um determinado destino têm que tomar as suas opções e espera-se que seja as mais adequadas. 
No caso dos Açores, houve espaço para apostar em unidades grandes e medias, de forma a corresponder a crescente procura, houve um tempo em que alguma dessas unidades fechavam ou interrompia a actividade na época baixa, numa demonstração de que o mercado já estava saturado de oferta.
Mais recentemente, ressurgiu o investimento nesse tipo de unidades com o "boom" repentino da procura. 
Durante todo esse processo, os responsáveis reconheceram a importância do Turismo Rural como produto diferenciador e, mesmo, ancora de um destino especial como o dos Açores, e este segmento foi sendo apoiado de acordo com essa ideia. 
No meio deste percurso, os apoios destinados sobre tudo à a promoção do Turismo Rural e de natureza, nomeadamente através da redução das verbas dos contratos-programas com a Associação Casas Açorianas, foram sendo progressivamente reduzido drasticamente.
No contexto actual, atendo que é altura de se voltar a apostar mais nos meios para promoção do Turismo Rural e de natureza que é, cada mais, o produto que nos distingue de tantos outros destinos à escala global. 


O fenómeno do alojamento local prejudicou muito o espaço rural? O que é que difere, nos direitos e deveres, entre as duas tipologias?


É óbvio que prejudicou. Empiricamente, é fácil de deduzir que muitos dos clientes do alojamento local estariam em unidades do turismo rural e de natureza.
Alguns, eventualmente, não viriam aos Açores por uma questão de preço, é certo.
E isto leva-nos à segunda parte da pergunta. O alojamento local- nem falo do clandestino, que é significativo, conforme reconhece a própria associação desse segmento- , rege-se por legislação muito menos exigente do que aquela que regula as unidades de Turismo Rural e de natureza.
Desde logo, no processo de licenciamento. No caso do alojamento local é muito mais ágil, sem necessidade de pareceres de várias entidades que, no caso do Turismo Rural e de natureza são exigidos.
As unidades do Turismo Rural e de Natureza, por exemplo, têm que corresponder a padrões arquitectónicos e de tipicidade, que implicam um conjunto de parceiros de várias entidades que não são exigidos no al.
Outros exemplos: a nível de serviços, as exigências também são diferentes, desde o apoio personalizado aos clientes, ou à obrigatoriedade de serviço de pequeno-almoço incluído no preço do alojamento, no caso do Turismo Rural, o que impede outras formas de comercialização que poderiam ser mais vantajosas para o cliente e para as unidades, caso o pequeno-almoço fosse tarifado à parte, por solicitação do cliente.
Alem disso, não se pode esquecer os custos de manutenção de uma e outra tipologias.
A obrigatoriedade- e o empenho pessoal dos proprietários das unidades de Turismo Rural e de Natureza -, de manter autenticidade que se apresente aos clientes, implica despesas acrescidas desde os materiais, à mão de obra com saberes ancestrais que cada vez são mais caros.


O parlamento Regional ou o Governo deviam analisar mais cuidadosamente a actual legislação e modificar aquilo que é preciso?

Venho há muito alertando para essa necessidade. Inclusivamente já dei contributos públicos e institucionais nesse sentido.
Reafirmo que é urgente fazer-se essa reflexão cuidada e alterar a legislação dentro do novo paradigma que o Turismo nos Açores vive para introduzir mais justiça no mercado.


Como perspectiva o futuro no sector?

O futuro continua a perspectivar-se optimista. Os Açores continuam na moda, têm argumentos para justificar o interessa que suscitam, mas, é bom lembrá-lo, o fenómeno turístico está em permanente mutação e depende seriamente da sustentabilidade. 
Sem que esta é já uma preocupação de alguns intervenientes, que já estão a ser dados passos nesse sentido, mas há ainda, muito a fazer para garantir que aquilo que nos distingue e atrai visitantes não seja banalizado e muito menos destruído a sua essência.


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